quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Pensamento que não desliga, que não cessa, como a própria vida...e a morte.

No meu último post, que aconteceu há pelo menos dois meses atrás, mencionei reflexões sobre a morte. O que motivou a escrita daquele texto, não foi o que aconteceu hoje às 3h30min na cidade de São Paulo num hospital com amiga muito próxima. A motivação partiu da ficção, mas neste momento a minha realidade é a motivadora.

Deixar de ter a companhia de alguém, a quem você tem um carinho muito grande, um respeito tão grande quanto e uma admiração pessoal e profissional que é demonstrado através da replicação de algumas condutas, é por demais doloroso.

Depois das lágrimas que o impacto da dor causa, dor que analgésico não cura ou cessa, afinal a dor não é física, é da alma; a racionalização do acontecimento: a morte é consequência da própria vida.

Minha amiga Vanessa, a ideia do seu afastamento temporário da minha presença, da sua ausência por agora, não fazia parte dos meus planos. Nem dos seus. Mas certamente, assim como está em minhas memórias, está gravada na suas, as nossas conversas - coisas da minha vivência de espiritualidade e dos seus questionamentos curiosos a respeito deste tema. Sua curiosidade aumentou nos últimos dias e certamente a levou a grandes aprendizados e a novos valores.

Não abarco o conhecimento da realidade individual de todos os seres da Terra para saber se o que acontece a cada um é justo ou injusto, mas sofro, e sofro muito com acontecimentos como este, especialmente com este acontecimento.

Fica com o meu abraço sincero Bonita, ainda existe muita vida pela eternidade, dada a nossa afinidade, certamente nos encontraremos novamente.

Deus te abençoe!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Reflexões para refletir

As vezes, refletir torna-se um verbo tão falado e tão conjugado na primeira pessoa de forma incorreta, em seu mais profundo significado, que torna-se banal.

Refiro-me ação de refletir, colocando pontos de um pensamento, ou muitos pensamentos, de forma concatenada, coerente para encontrar uma conclusão, ou apenas fazer considerações para uma nova reflexão...Pensei nisso, por causa da morte...

Para não cair em lugar comum, nem tropeçar no túmulo de ninguém (não estou nem de longe falando do MJ), talvez eu me refira a fatos narrados em obras de ficção, TV shows e outras obras de entretenimento, bem como a vida real....para os leitores que perceberem a semelhança, um aviso: não é mera coincidência.

É fato: para que morte se dê, é necessário que haja a vida. Todos nós estamos fadados a este momento, ao qual eu chamo de transformação – dado aos meus valores morais com o conhecimento de espiritualidade que aos poucos tenho conquistado. Enquanto esse momento não chega pra nós, assistimos de perto, ou de muito distante, a chegada do mesmo para alguém, ou muitos desses “alguéns”.

Acidentes com meios de transporte, com pessoas que têm algo em comum, pelo fato de estarem juntas, considerando as grandezas espaço e tempo. Que possuíam um mesmo objetivo, pelo menos um.

Assistia ontem ao final de temporada de uma série de TV. Durante duas horas acompanhei ansioso pelo desfecho de algo que, na minha cabeça, era previsível. É uma série que mistura o drama da realidade diária de um hospital, com a comédia que se torna o relacionamento das personagens que fazem parte desta realidade.

Dúvidas e certezas, amor e ódio, escolhas, saúde, ausência de saúde... Neste último item, uma das personagens, querida e cativante personagem, cujo crescimento pessoal e profissional se deu à custa de muito trabalho. Árduo trabalho que foi reconhecido pela competência de suas ações, têm a sua vida transformada por um diagnóstico de câncer. A partir daí as reflexões surgem e decisões com alto valor moral agregado, passam a a permear a vida de muitos que cercam.

Passam então a dar valor ao tempo ao lado das pessoas amadas, passam também a dizer que amam, passando por cima, às vezes, do orgulho que impede de dizer as três palavras que, juntas, têm um significado enorme para a Vida de cada um de nós.

A personagem morre, o que já esperávamos, mas o que não esperávamos é que mais um fosse morrer.

Após salvar a vida de uma garota, afastando-a da frente de um ônibus ele é atropelado e chega ao hospital, totalmente desfigurado e irreconhecível. Um ato nobre retratando, como a pincelada final, o personagem que proporcionou momentos hilários pelas situações muito cômicas nas quais se envolveu. E cujo coração se mostrou todo o tempo, como algo de muito valor, nobre valor...

Mas, enquanto assistia, não deixava de pensar na vida real e quanto tudo aquilo que ali estava retratado fazia parte da minha própria vida, não na mesma intensidade, mas proporções menores – a amiga do grupo que tem um quadro de câncer agravado, a vida que lhe permite uma oportunidade de refletir acerca de valores, pessoas, decisões, planos e projetos. Reconhecimento da competência e inteligência da mesma amiga...

Não necessito parar para pensar, estes pensamentos (reflexões) independem do movimento, ele próprio não pára...

Pensamento que não desliga, que não cessa, como a própria vida...e a morte.

domingo, 26 de abril de 2009

Ligando os pontos e encontrando o que ama

Discurso proferido na colação de grau do curso de Sistemas de Informação da FTC-Conquista

Vitória da Conquista, 24 de abril de 2009
Por Gil Novais

Meu caros bacharéis,

Neste momento, que não estou em sala de aula, não falarei, portanto em Grupos ou outras Estruturas Algébricas, Modus Ponens ou Modus Tollens...não falarei definitivamente em Matemática Discreta

Contarei algumas histórias. Histórias de pessoas comuns como nós, mas com muito amor em suas ações.

Enquanto pensava no que dizer-lhes lembrava de muitos momentos em que falei ao público e que mensagem gostaria que as pessoas captassem, por isso, apresentarei para vocês algumas das muitas histórias que já contei a algumas pessoas, nos últimos seis anos.

Lembro-me de ler a respeito de uma jovem albanesa, de nome Agnes, que depois de muitos acontecimentos em sua vida, muitas decisões baseadas em reflexões profundas se tornou Teresa, o mesmo nome da santa de sua devoção – Teresinha de Lisieux. A dedicada jovem que muito trabalhou para alfabetizar e levar conhecimento às pessoas que moravam na periferia da cidade de Calcutá tornou-se a Madre Teresa.

Lembro-me também de outra jovem inglesa, Florence, uma revolucionária para seu tempo, 1820-1910. Decidiu romper com a tradição de educar-se para casar-se e ser apenas dona de casa cuidando do marido. Foi para a guerra, a guerra da Criméia, num tempo em que mulheres na guerra significavam que eram prostitutas – ela, ao contrário, foi cuidar dos feridos de guerra para evitar que o número de mortos fosse maior do que as expectativas e conseguiu. Quando voltou à Inglaterra, era, em seu tempo, mais popular do que a rainha Vitória. Ela criou os modernos princípios do cuidar – a Enfermagem. Estamos falando de Florence Nightingale.

Nas minhas leituras encontrei um garoto, baiano, nascido nas terras da Chapada Diamantina, filho de professores do ensino primário, hoje, as séries iniciais do ensino fundamental. O garoto foi alfabetizado pelos seus pais, estudou em Salvador, graduou-se em Direito e lecionou Geografia – trabalhou em Ilhéus e Salvador. Foi exilado do país. Convidado, não recusou um convite ao doutoramento em Strasbourg, na França. Volta o Prof. DSc. Milton Santos, que instala no Brasil uma via para discussão de alto nível intelectual em nosso país e o reconhecimento internacional do seu trabalho. Em 1996, para os seus 70 anos, amigos se reuniram para prestar-lhe uma homenagem, num Seminário Internacional, em São Paulo, denominado O mundo do Cidadão. Um cidadão do mundo. Milton Santos morreu em 2001, aos 75 anos e deixou um grande legado e grandes admiradores em todo o mundo.

Lembro-me ainda, de um cidadão norte americano, que em seu discurso, quando convidado a ser paraninfo de uma turma que estava graduando na Universidade de Stanford, dizia “Connect the dots” – “Ligue os pontos”.

Também direi pra vocês que conectem os pontos. Façam isso por vocês.

O que existe em comum entre as histórias que acabei de contar?
Pode-se constatar que são pessoas comuns, como nós mesmos, mas que fizeram a diferença nas suas vidas porque perceberam oportunidades de serem úteis à sociedade e a si mesmos quando seguiram seus sonhos.

O americano da minha leitura teve um início de vida meio complicado. Nasceu de uma mãe solteira, universitária, que o doou para adoção.

Sua mãe biológica esperava que seus pais adotivos fossem pessoas com nível superior, mas não conseguiu e só concordou em assinar os papéis de adoção depois que os pais pretendentes prometeram mandá-lo para a universidade.

Ele cresceu, foi à escola e à universidade, entretanto ele escolheu uma universidade cuja mensalidade era tão cara que não continuou seus estudos de nível superior. Desistiu em seis meses. Mas continuou no ambiente de estudos por mais 18 meses, para que ele pudesse aproveitar os cursos e as disciplinas dentro da universidade, que fossem do seu interesse. Então ele foi conectando os pontos.

Ele não tinha mais um quarto para dormir. Usava o chão do quarto dos amigos para isso. Ele juntava garrafas de Coca-Cola para ganhar 5 centavos por elas e comprar comida.

Mas o jovem tinha uma grande percepção. Percebeu, entre outras coisas, o que de melhor a universidade poderia lhe oferecer gratuitamente e aproveitou.

A universidade oferecia naquela época a melhor formação de caligrafia do país. Em todo o campus, cada pôster e cada etiqueta de gaveta eram escritas com uma bela letra de mão. Ele decidiu assistir as aulas de caligrafia. Aprendeu sobre fontes com serifa e sem serifa, sobre variar a quantidade de espaço entre diferentes combinações de letras, sobre o que torna uma tipografia boa. Aquilo era bonito, histórico e artisticamente sutil de uma maneira que a ciência não podia entender. Ele achou aquilo tudo fascinante.

Naquele momento tudo aquilo não fazia muito sentido, mas alguns anos mais tarde ele e um amigo criaram uma empresa, com nome de fruta, e um computador nomeado com uma espécie de maçã. Nascia a Apple e os computadores Macintosh.
E os estudos do jovem sobre caligrafia fariam parte então do sistema operacional destes computadores... As modernas fontes, usadas nos computadores de todo o mundo nasceram então dessa iniciativa. Sejam PC’s, Macintoshes, notebooks, netbooks, pda’s, smartphones, todos têm um toque do Steve Jobs.

Tendo que abandonar um sonho, ele não desistiu de tudo, mas encontrou o que ele amava.

Bem mais tarde, foi diagnosticado com um câncer, também não desistiu, lutou e voltou a trabalhar produzindo tanto quanto antes. Recentemente afastou-se novamente por conta da doença, mas sabe a importância de fazer aquilo que ama, para fazê-lo é necessário continuar vivendo e ele luta por isso

E esta é a lição que ele deixa. Encontre o que você ama.

Lembre-se que, se não encontraram ainda o que amam, tente lembrar, dia-a-dia, de Florence Nightingale e a Enfermagem que cuida; de Madre Teresa de Calcutá e o respeito com qual falamos o seu nome; de Milton Santos e todo o respeito que foi conquistado fora do país para os nossos intelectuais e de Steve Jobs, desse último, vamos lembrar de todos os produtos que gostaríamos de ter criado, mas que leva o nome dele – parecem pessoas muito diferentes, e são, mas com algo em comum: encontraram o que amavam e lutaram para fazer e continuar amando.

Permitam-me neste instante fazer uma homenagem àquela, já homenageada pelo orador da turma, o Alan, e lembrar que ela também encontrou o que ama e lutava para alcançar os objetivos traçados, que não eram pessoais mas trabalhava em função da boa qualidade do que vocês deveriam ter – qualidade de ensino e de conhecimento. Digo isso porque acompanhava de perto o seu trabalho como coordenadora do curso – além de amigo, trabalhava ao lado dela para que isso acontecesse – a professora Vanessa Bittencourt, fica aqui a minha homenagem com grande respeito e muita admiração.

Conecte os pontos. Encontre o que vocês amam. Certamente, fazendo isso vocês não terão que lutar para encontrar a felicidade, ela virá ao encontro de vocês.

Um abraço sincero a cada um de vocês – Ademilda, Alan, Cristiano, Danilo, Leonardo, Raiana, Rodrigo e Tarcísio.

Muito obrigado.