domingo, 26 de abril de 2009

Ligando os pontos e encontrando o que ama

Discurso proferido na colação de grau do curso de Sistemas de Informação da FTC-Conquista

Vitória da Conquista, 24 de abril de 2009
Por Gil Novais

Meu caros bacharéis,

Neste momento, que não estou em sala de aula, não falarei, portanto em Grupos ou outras Estruturas Algébricas, Modus Ponens ou Modus Tollens...não falarei definitivamente em Matemática Discreta

Contarei algumas histórias. Histórias de pessoas comuns como nós, mas com muito amor em suas ações.

Enquanto pensava no que dizer-lhes lembrava de muitos momentos em que falei ao público e que mensagem gostaria que as pessoas captassem, por isso, apresentarei para vocês algumas das muitas histórias que já contei a algumas pessoas, nos últimos seis anos.

Lembro-me de ler a respeito de uma jovem albanesa, de nome Agnes, que depois de muitos acontecimentos em sua vida, muitas decisões baseadas em reflexões profundas se tornou Teresa, o mesmo nome da santa de sua devoção – Teresinha de Lisieux. A dedicada jovem que muito trabalhou para alfabetizar e levar conhecimento às pessoas que moravam na periferia da cidade de Calcutá tornou-se a Madre Teresa.

Lembro-me também de outra jovem inglesa, Florence, uma revolucionária para seu tempo, 1820-1910. Decidiu romper com a tradição de educar-se para casar-se e ser apenas dona de casa cuidando do marido. Foi para a guerra, a guerra da Criméia, num tempo em que mulheres na guerra significavam que eram prostitutas – ela, ao contrário, foi cuidar dos feridos de guerra para evitar que o número de mortos fosse maior do que as expectativas e conseguiu. Quando voltou à Inglaterra, era, em seu tempo, mais popular do que a rainha Vitória. Ela criou os modernos princípios do cuidar – a Enfermagem. Estamos falando de Florence Nightingale.

Nas minhas leituras encontrei um garoto, baiano, nascido nas terras da Chapada Diamantina, filho de professores do ensino primário, hoje, as séries iniciais do ensino fundamental. O garoto foi alfabetizado pelos seus pais, estudou em Salvador, graduou-se em Direito e lecionou Geografia – trabalhou em Ilhéus e Salvador. Foi exilado do país. Convidado, não recusou um convite ao doutoramento em Strasbourg, na França. Volta o Prof. DSc. Milton Santos, que instala no Brasil uma via para discussão de alto nível intelectual em nosso país e o reconhecimento internacional do seu trabalho. Em 1996, para os seus 70 anos, amigos se reuniram para prestar-lhe uma homenagem, num Seminário Internacional, em São Paulo, denominado O mundo do Cidadão. Um cidadão do mundo. Milton Santos morreu em 2001, aos 75 anos e deixou um grande legado e grandes admiradores em todo o mundo.

Lembro-me ainda, de um cidadão norte americano, que em seu discurso, quando convidado a ser paraninfo de uma turma que estava graduando na Universidade de Stanford, dizia “Connect the dots” – “Ligue os pontos”.

Também direi pra vocês que conectem os pontos. Façam isso por vocês.

O que existe em comum entre as histórias que acabei de contar?
Pode-se constatar que são pessoas comuns, como nós mesmos, mas que fizeram a diferença nas suas vidas porque perceberam oportunidades de serem úteis à sociedade e a si mesmos quando seguiram seus sonhos.

O americano da minha leitura teve um início de vida meio complicado. Nasceu de uma mãe solteira, universitária, que o doou para adoção.

Sua mãe biológica esperava que seus pais adotivos fossem pessoas com nível superior, mas não conseguiu e só concordou em assinar os papéis de adoção depois que os pais pretendentes prometeram mandá-lo para a universidade.

Ele cresceu, foi à escola e à universidade, entretanto ele escolheu uma universidade cuja mensalidade era tão cara que não continuou seus estudos de nível superior. Desistiu em seis meses. Mas continuou no ambiente de estudos por mais 18 meses, para que ele pudesse aproveitar os cursos e as disciplinas dentro da universidade, que fossem do seu interesse. Então ele foi conectando os pontos.

Ele não tinha mais um quarto para dormir. Usava o chão do quarto dos amigos para isso. Ele juntava garrafas de Coca-Cola para ganhar 5 centavos por elas e comprar comida.

Mas o jovem tinha uma grande percepção. Percebeu, entre outras coisas, o que de melhor a universidade poderia lhe oferecer gratuitamente e aproveitou.

A universidade oferecia naquela época a melhor formação de caligrafia do país. Em todo o campus, cada pôster e cada etiqueta de gaveta eram escritas com uma bela letra de mão. Ele decidiu assistir as aulas de caligrafia. Aprendeu sobre fontes com serifa e sem serifa, sobre variar a quantidade de espaço entre diferentes combinações de letras, sobre o que torna uma tipografia boa. Aquilo era bonito, histórico e artisticamente sutil de uma maneira que a ciência não podia entender. Ele achou aquilo tudo fascinante.

Naquele momento tudo aquilo não fazia muito sentido, mas alguns anos mais tarde ele e um amigo criaram uma empresa, com nome de fruta, e um computador nomeado com uma espécie de maçã. Nascia a Apple e os computadores Macintosh.
E os estudos do jovem sobre caligrafia fariam parte então do sistema operacional destes computadores... As modernas fontes, usadas nos computadores de todo o mundo nasceram então dessa iniciativa. Sejam PC’s, Macintoshes, notebooks, netbooks, pda’s, smartphones, todos têm um toque do Steve Jobs.

Tendo que abandonar um sonho, ele não desistiu de tudo, mas encontrou o que ele amava.

Bem mais tarde, foi diagnosticado com um câncer, também não desistiu, lutou e voltou a trabalhar produzindo tanto quanto antes. Recentemente afastou-se novamente por conta da doença, mas sabe a importância de fazer aquilo que ama, para fazê-lo é necessário continuar vivendo e ele luta por isso

E esta é a lição que ele deixa. Encontre o que você ama.

Lembre-se que, se não encontraram ainda o que amam, tente lembrar, dia-a-dia, de Florence Nightingale e a Enfermagem que cuida; de Madre Teresa de Calcutá e o respeito com qual falamos o seu nome; de Milton Santos e todo o respeito que foi conquistado fora do país para os nossos intelectuais e de Steve Jobs, desse último, vamos lembrar de todos os produtos que gostaríamos de ter criado, mas que leva o nome dele – parecem pessoas muito diferentes, e são, mas com algo em comum: encontraram o que amavam e lutaram para fazer e continuar amando.

Permitam-me neste instante fazer uma homenagem àquela, já homenageada pelo orador da turma, o Alan, e lembrar que ela também encontrou o que ama e lutava para alcançar os objetivos traçados, que não eram pessoais mas trabalhava em função da boa qualidade do que vocês deveriam ter – qualidade de ensino e de conhecimento. Digo isso porque acompanhava de perto o seu trabalho como coordenadora do curso – além de amigo, trabalhava ao lado dela para que isso acontecesse – a professora Vanessa Bittencourt, fica aqui a minha homenagem com grande respeito e muita admiração.

Conecte os pontos. Encontre o que vocês amam. Certamente, fazendo isso vocês não terão que lutar para encontrar a felicidade, ela virá ao encontro de vocês.

Um abraço sincero a cada um de vocês – Ademilda, Alan, Cristiano, Danilo, Leonardo, Raiana, Rodrigo e Tarcísio.

Muito obrigado.